Debora Inouye fala sobre o programa Tech4Girls, que contribui para proporcionar mais acesso para mulheres e meninas na ciência.
Hoje (11/02) é celebrado o Dia Internacional das Mulheres e Meninas na Ciência. Essa data foi instituída em 2015, pela Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), com o objetivo de ampliar o acesso e promover equidade de tratamento para mulheres e meninas na ciência e tecnologia.
Para celebrar essa data convidamos Debora Noemi Inouye, idealizadora do programa Tech4Girls, para um bate-papo.
Debora é sócia e diretora de Tecnologia Educacional da Happy, área que atua há mais de 15 anos. Já coordenou projetos em parceria com grandes empresas como Microsoft, Intel, Conselho Britânico, IBM e HP. É mestre em Tecnologia Educacional pela Universidade Técnica de Lisboa / UNED Madri / Université de Poitiers, França, graduada em Sistemas de Informação pela Unesp e licenciada em Computação. Possui certificação em Empreendedorismo e Inovação pela Universidade de Stanford, e foi a primeira estrangeira a obter um diploma STEM pelo NISE (National Institute for STEM Education).
1. O que é a iniciativa Tech4Girls?
O Tech4Girls é, na verdade, um programa de incentivo à entrada de meninas e mulheres na área de tecnologia. A ideia é que dentro do programa haja várias iniciativas. Uma delas é um curso de curta duração, chamado Desenvolvimento Criativo. Esse curso é exclusivo para meninas, porém, não tem o intuito de excluir outras pessoas, mas de mostrar para elas que são capazes de programar.
Dentro do Tech4Girls há, por exemplo, iniciativas minhas, quanto ao incentivo de mulheres na tecnologia. Já palestrei, como convidada, em um evento no Canadá sobre mulheres em Tecnologia da Informação (TI), que tratava sobre a entrada de mulheres na tecnologia. Já fui convidada para ser mentora no Startup Weekend exclusivo para mulheres. Também já fui convidada para fazer palestras de incentivo à entrada de mulheres na tecnologia.
Desse modo, o Tech4Girls é um programa “guarda-chuva”, que contém várias iniciativas de incentivo.
2. Qual desafio levou à criação da iniciativa?
Quando olhamos as estatísticas, tanto no ensino superior quanto no mercado de trabalho, vemos uma porcentagem muito maior de homens que mulheres em cursos ou carreiras vinculadas à tecnologia. O Censo da Educação Superior realizado em 2019 mostrou que as mulheres representavam apenas 13,3% das matrículas nos cursos de graduação presencial em Computação e TI. Isso reflete posteriormente no mercado de trabalho. Inclusive, segundo o U.S. Census Bureau, em 2019, os homens dominaram a área STEM (Ciências, Tecnologia, Engenharia e Matemática) nos EUA, ocupando 73% dos postos de trabalho.
E olhando de modo geral, o problema acontece desde a infância. Na base de alunos da Happy, por exemplo, no último levantamento as meninas representavam apenas 30% dos alunos matriculados nas aulas Code.
E se queremos mulheres concorrendo de igual para igual com os homens daqui a alguns anos, precisamos promover equidade em todos os sentidos. Inclusive, permitindo que meninas iniciem sua alfabetização digital desde cedo, para que possam participar e não ser excluídas dessa revolução digital.
3. Cite exemplos que retratam a desigualdade entre homens e mulheres?
Reconhecemos que as mulheres não chegam mais longe devido a barreiras construídas desde a infância. Quando um pai compra presente para os filhos, por exemplo, meninas sempre ganham bonecas, enquanto meninos ganham brinquedos que envolvem construir, montar, quebrar, serem cientistas, pequenos engenheiros, etc. Ao longo do percurso escolar, as meninas também podem receber, direta ou indiretamente, comentários e feedbacks que vão, aos poucos, fazendo com que fiquem cada vez mais longe das áreas de exatas. Isso gera uma ideia para as meninas de que não são capazes – por isso surgiu o Desenvolvimento Criativo, para que tenham o primeiro contato com tecnologia e reconheçam que são tão capazes quanto homens de programar e até mesmo se destacar.
Após a infância, o preconceito continua. Ouvimos relatos de estudantes universitárias da área de tecnologia, por exemplo, que sofreram preconceito de professores e/ou colegas. E isso se estende para o mercado de trabalho.
Por isso, lutamos contra o preconceito incentivando a alfabetização digital e o acesso à formação em STEM, pois há carência de mulheres nessas áreas.
4. Quais são os maiores desafios para promover a equidade no mercado?
Muitas vezes, o desafio é cultural. Há países, por exemplo, onde é obrigatória a presença feminina de 50% em cargos políticos, garantindo maior equidade.
Há também o problema histórico, pois mulheres sempre foram criadas para trabalharem em casa, por exemplo – e não há problema nenhum nisso desde que seja uma escolha, mas ficam os resquícios do sistema patriarcal.
5. Qual é o objetivo da inciativa Tech4Girls? Como responde ao problema identificado?
Um primeiro ponto é promover conscientização através de palestras, debates, mesas-redondas, etc. Sempre que vou palestrar, tento mostrar para as pessoas a importância da tecnologia, visto que o mundo está ficando cada vez mais tecnológico. E só teremos um mercado mais igualitário no futuro se todos tiverem esse acesso, do contrário, nunca poderemos concorrer de igual para igual com homens. Hoje falamos de metaverso, bancos virtuais, tecnologia no agronegócio, na medicina, no direito, em todas as áreas. Assim, precisamos nos capacitar para essa nova era digital.
Um segundo ponto é dar o acesso, uma porta de entrada para o STEM. Por que fizemos uma turma exclusiva de meninas, com instrutora mulher? Muitas vezes, no ambiente onde quase todos são homens, há preconceito e receios de mulheres não conseguirem performar como homens. Esse novo ambiente remove essas barreiras, abrindo oportunidades.
6. Quais atividades são desenvolvidas na iniciativa?
No curso de Desenvolvimento Criativo, as meninas desenvolvem games e animações. Não ficam na teoria, colocam a mão na massa e têm uma iniciação à programação. Hoje, trabalhamos com quatro atividades: 1. Uma animação no estilo SimCity; 2. Um jogo similar ao Just Dance, em que o jogador imita os movimentos dos personagens; 3. Um jogo de pular corda, em que desenham o cenário e criam a animação; 4. Um jogo de fazenda, similar ao FarmVille, em que criam o cenário e a programação para o jogador coletar a plantação em troca de moedas para usar na fazenda. Este curso é de curta duração, porém fornece uma base para as meninas iniciarem no mundo da programação.
7. Qual é a abrangência da iniciativa?
A iniciativa abrange os 55 hubs da Happy, presentes em quase todos os estados do Brasil. Quanto às palestras, eventos e mesas-redondas, já fui, inclusive, para fora do país.
8. Quais foram os resultados conquistados até o momento?
Já impactamos mais de 250 meninas com este único programa (Desenvolvimento Criativo) e um público maior que 1000 pessoas em palestras e outras ações.
Um grande resultado do programa Tech4Girls foi ter duas alunas da Happy como semifinalistas da Technovation Girls, uma competição internacional de tecnologia, em 2020.
As meninas concorreram com o aplicativo “PetFather”, desenvolvido para resolver o problema de superlotação em abrigos de animais. Inclusive, sempre incentivamos as alunas da Happy que se destacam a participar dessa competição, como forma de mostrar que elas são capazes.
9. Quais são as perspectivas da iniciativa para o futuro?
Meu desejo é fazer mais. Queremos organizar lives, por exemplo, com participação de mulheres bem-sucedidas na área de tecnologia, contando sobre suas trajetórias. Também desejo escrever um livro sobre tecnologia, voltado para meninas, que conte sobre grandes mulheres que fizeram história nessa área.
Queremos impactar muitas pessoas e fazer parcerias que possam apoiar e ajudar a alcançar mais meninas/mulheres.
10. Qual mensagem você deixa para mulheres e meninas que atuam ou desejam atuar na Ciência?
As mulheres são capazes de chegar onde quiserem, mas isso exige preparo e determinação. Será necessário se provar duas vezes – mostrar que são capazes e que podem tanto quanto seus concorrentes.
Mudanças já estão acontecendo, mas esperamos que esse cenário seja muito mais favorável nos próximos anos.
Sobre a Happy
Você gostou desse conteúdo? Venha conhecer a Happy. Clique na imagem abaixo, encontre o Hub mais próximo de sua casa e agende um curso gratuito! E para ficar por dentro de tudo que acontece na Happy, siga nossas páginas oficiais no Facebook, Instagram e LinkedIn.