Mas afinal, o uso de games compromete ou não o desenvolvimento da criança e do adolescente? Ou será que, usando bem, pode contribuir para o aprimoramento de habilidades motoras, cognitivas, visuais, concentração, memória e até, quem sabe, constituir um inovador meio de exploração para conteúdo pedagógico?
Como não encantar-se com imagens tão próximas da realidade? Como não sentir-se dentro daquele ambiente onde se pode construir suas próprias cidades, lutar pela sobrevivência e até captar recursos naturais? Minecraft é apenas um dos inúmeros exemplos de jogos que atraem não somente crianças e adolescentes, mas também muitos adultos que fazem dos games seu momento de “relax”. Uma pesquisa feita pela Universidade de Oxford, mostrou que, dos 5 mil jovens entrevistados, entre 10 e 15 anos, 75% deles jogavam videogame todos os dias.
Antes de classificar os games como algo do bem ou do mal, se faz imprescindível refletir sobre aspectos e características inerentes a sua utilização, tais como: sua categoria, classificação indicativa, quantidade de tempo dedicado ao jogo, objetivo do jugo, alternância com outras formas de entretenimento offline, respeito às necessidades básicas (simmm, tem gente que deixa de comer, tomar banho e até de ir ao banheiro para não parar o jogo, acredita?), entre outros.
Importante ressaltar sobre um equívoco bastante comum sobre os videogames e que precisamos aprender a filtrar, qual seja, o de relacioná-lo a exceção como regra, por exemplo: casos de gamers que praticaram atos de violência. Seria ingênuo de nossa parte atribuir tal atitude à exclusiva responsabilidade do jogo, embora muitos estudos comprovem que a excessiva exposição a conteúdo violento possa favorecer aos jovens que já exibem essa tendência, um elemento coadjuvante ao desenvolvimento do comportamento agressivo. Há de se considerar outros tantos fatores que podem estar relacionados ao ato em si, como o próprio ambiente familiar, além da possibilidade de distúrbios psicológicos a serem, naturalmente, avaliados individualmente.
Não são poucos os estudos que apresentam excelentes perspectivas[1] acerca dos games, tais como: estímulo no desenvolvimento de habilidades, planejamento estratégico e superação de obstáculos, foco e criatividade, desenvolvimento de habilidades sociais e até tolerância à frustração e obediência às regras, a depender do adulto que está “por trás”, em se tratando de crianças e adolescentes.
Contudo e para tudo que as novas tecnologias oferecem é preciso educação. Educação para o melhor e mais seguro proveito desta fantástica e dinâmica evolução. Oras, assim como o uso bem equilibrado e direcionado dos games pode, de fato, gerar uma série de benefícios, por outro lado, o uso inadequado, pode gerar sérios prejuízos, inclusive para saúde física e mental do jogador, seja ele da idade que for.
Logo, apesar da inerente característica de entretenimento, é preciso estar atento aos objetivos de cada jogo e incentivar somente o uso daqueles indicados para a respectiva faixa etária. Afinal, não por acaso o Ministério da Justiça estabelece as diretrizes necessárias para classificação indicativa de conteúdo acessado por criança e adolescente.
Nada a ver mãeee!!! Os pais do Fulano são bem mais legais. Eles compram todos os jogos sem se preocupar com nada disso. Que mau um simples jogo vai me fazer? Os adultos se acham só por que são mais altos e mais velhos que a gente!!!!!!! Pois é! Há tempo para tudo na vida e há muitos, mas muitos mesmo, jogos legais indicados para a idade do seu filho. Não se trata de repressão, mas medida de proteção. A classificação indicativa sinaliza os riscos que o conteúdo pode oferecer, seja ele violento, com cenas de sexo, uso de drogas (licitas ou ilícitas) e constitui relevante informação direcionada aos pais e responsáveis que, a partir dela, devem decidir se seria ou não adequado o acesso.
O artigo 71 assegura a crianças e adolescentes direitos à informação, cultura, lazer, esportes, diversões, espetáculos, e produtos e serviços que respeitem a sua condição peculiar de pessoa em desenvolvimento. Portanto, o objetivo da classificação indicativa não é censurar, mas proteger.
Por exemplo, falando em faixa etária e considerando aqueles games que propiciam a interação por meio de chats, com ou sem o uso de webcam: será mesmo que uma criança de 8, 9, 10 ou 11 anos saberia perceber um falsário do lado de lá? Um aliciador de menores se fazendo passar por alguém da mesma idade, mesmos interesses só para ganhar sua confiança e aproximação? Já conversaram sobre não interagir e/ou usar a webcam com estranhos? Sobre não compartilhar informações sensíveis a seu respeito e da família?
No dever moral e legal de criar e dirigir a educação[2] dos filhos, também faz parte ajudá-los a compreender que aquela sensação de olhos secos pode estar relacionada à exposição excessiva dos olhos na tela, que as dores que por vezes sente nas articulações, na cervical e na lombar podem ser resultado do tempo excessivo que dedicou ao game, que seu rendimento escolar pode estar sendo comprometido por não mais conseguir ficar acordado ou concentrado o quanto deveria, que sua opção por deixar de praticar esportes a ficar hipnotizado no vídeo game, pode explicar seu excesso de peso, que a falta de assunto na roda de amigos, pode se dar pelo fato de não mais encontrar tempo para estarem juntos fora do jogo e por aí vai. Então vem a pergunta: será mesmo que o problema está no uso ou será no excesso?
A internet, o telefone com suas músicas preferidas, câmera digital, acesso à web, calendário, agenda (e que faz até ligação!!!!! Oi??), os games e tudo mais que os avanços tecnológicos oferecem, estão aí. Esta realidade não retroagirá, pelo contrário, continuará avançando e a passos largos e o grande segredo do sucesso é aprender a tirar o melhor proveito de tudo isso, com ética, segurança, consciência e responsabilidade. Aí está o seu papel, enquanto educador, enquanto pai, mãe que ama e que almeja o melhor para seu rebento. Você não precisa transformar-se em um “hacker”, mas precisa manter-se informado e buscar meios que favoreçam o acesso de seus filhos a informações de qualidade sobre o assunto.
E pra fechar, você sabia que tem até universidade concedendo bolsa de estudos para gamers? Isso mesmo, para algumas universidades americanas, assim como o basquete, o beisebol e o futebol americano, videogame também é esporte.
[1] Nery, Alberto. Educação Digital, Quais os benefícios que os games podem trazer para crianças e adolescentes. São Paulo. Revista dos Tribunais, 2014.
[2] CC – Art. 1.634 – Compete aos pais, quanto à pessoa dos filhos menores:
I – dirigir-lhes a criação e educação;
Por Alessandra Borelli