No universo do desenvolvimento infantil, dois conceitos que frequentemente despertam curiosidade são o autismo e a superdotação. Embora distintos, esses aspectos do desenvolvimento podem coexistir numa dualidade complexa e fascinante, conhecida como dupla excepcionalidade.
Logo, entender as nuances do autismo, caracterizado por uma gama de experiências sociais e comunicativas únicas, e da superdotação, que envolve habilidades cognitivas excepcionais, exige um olhar cuidadoso e informado. E quando essas características se sobrepõem, emergem perguntas como: “qual a diferença?” ou “quais os sinais da dupla excepcionalidade?”
Para explorar essas questões e iluminar o caminho a seguir, conversamos com Greice C. Dos S. Carraro, uma psicopedagoga/neuropsicopedagoga, cuja especialidade no assunto promete solucionar as principais dúvidas de pais e mães.
Neste blog post, mergulharemos em suas percepções e conselhos, buscando não apenas compreender melhor a realidade de seus pequenos, mas também como podemos, juntos, apoiar o desenvolvimento integral das crianças. Vamos lá? Siga a leitura!
O que é superdotação?
Antes de tudo, é importante entender o conceito de superdotação. Basicamente, essa é a palavra utilizada para se referir a pessoas com habilidades acima da média em uma ou mais áreas do conhecimento, sejam elas, cognitivas, intelectuais ou artísticas. Isto é, o QI tende a ser igual ou superior a 130.
Isso pode ser observado durante a infância, momento em que a criança está construindo seu aprendizado e acaba demonstrando um interesse maior em uma categoria específica, como, por exemplo, matemática ou ciências, sendo uma característica frequentemente confundida com o hiperfoco do autismo infantil.
O que é dupla excepcionalidade?
A dupla excepcionalidade é o termo utilizado para quem foi diagnosticado com autismo e superdotação. Geralmente, crianças com os dois diagnósticos apresentam sinais comuns do TEA, assim como possui um desempenho acima da média, ou seja, altas habilidades em áreas específicas do ensino.
Solucionando dúvidas frequentes com uma profissional especializada
Agora que você já sabe a definição dos dois conceitos-base para este artigo, mergulharemos na entrevista com a Greice C. Dos S. Carraro. Confira abaixo:
Qual a diferença entre autismo e superdotação?
O transtorno do espectro autista (TEA) é um distúrbio do neurodesenvolvimento caracterizado por desenvolvimento atípico, manifestações comportamentais, déficits na comunicação e na interação social, padrões de comportamentos repetitivos e estereotipados, podendo apresentar um repertório restrito de interesses e atividades.
Já a superdotação é caracterizada de acordo com a neurodiversidade para identificar pessoas com alto nível de potencial intelectual, que segundo “Renzulli”, a pessoa deve apresentar três características primordiais, inteligência acima da média, criatividade e envolvimento com a tarefa.
Assim, a diferença principal entre autismo e superdotação é que o autismo é um distúrbio e a superdotação é uma condição que a pessoa possui como características, não tendo, portanto, nenhum CID.
Existe uma relação entre o autismo e a superdotação?
Não há relação entre autismo e superdotação, no entanto, pelo fato do autista apresentar hiperfoco em algum tema ou atividade de interesse, pode ser confundido com a característica de envolvimento com a tarefa do superdotado.
Quais são os sinais precoces de superdotação em crianças autistas?
No ambiente escolar, tal como em outros locais em que a criança esteja, é importante observar algumas características, pois estas podem contribuir de forma significativa para a identificação destas habilidades. Algumas delas são:
- Grande curiosidade a respeito de objetos. Situações ou eventos com envolvimento em muitos tipos de atividades exploratórias.
- Auto Iniciativa, tendência a começar sozinho as atividades, preferindo perseguir interesse individuais a procurar direção própria;
- Originalidade de expressão oral e escrita, com produção constante de respostas diferentes e ideias não estereotipadas;
- Talento incomum para expressão em artes, como música, dança, drama, desenho e outras;
- Habilidade para apresentar alternativas de soluções, com flexibilidade de pensamento;
- Abertura para a realidade, busca de se manter a par do que o cerca, sagacidade e capacidade de observação;
- Capacidade de enriquecimento com situações-problema, de seleção de respostas, de busca de soluções para problemas difíceis ou complexos;
- Capacidade para usar o conhecimento e as informações, na busca de novas associações, combinando elementos, ideias e experiências de forma peculiar;
- Capacidade de julgamento e avaliação superiores, ponderação e busca de respostas lógicas, percepção de implicações e consequências, facilidade de decisão;
- Produção de ideias e respostas variadas, gosto pelo aperfeiçoamento das soluções encontradas;
- Gosto por correr riscos em várias atividades;
- Habilidade em ver relações entre fatos, informações ou conceitos aparentemente não relacionados, e aprendizado rápido, fácil e eficiente, especialmente no campo de sua dotação e interesse.
Toda criança com TEA tem superdotação?
Existe a possibilidade de um autista ter altas habilidades/superdotação, no entanto, é mito que todos tenham, pois há muitas comorbidades que podem acompanhar o autismo, como TDAH, dislexia, discalculia, TOD, deficiência intelectual, entre outras.
Quais são os desafios enfrentados por crianças com dupla excepcionalidade?
A criança com altas habilidades e TEA, terá desafios no decorrer de sua vida, especialmente a escolar, pois em virtude do autismo, a criança precisará de adaptações curriculares, estas que podem ser de pequeno, médio e grande porte.
Já na área das altas habilidades, provavelmente irá necessitar de um enriquecimento curricular para intervenção direta em sua área de maior potencial.
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Como posso apoiar o desenvolvimento social e emocional do meu filho com dupla excepcionalidade?
Toda criança com diagnóstico de dupla excepcionalidade, precisa passar por avaliação multiprofissional. Após realizada toda triagem necessária, tanto em relação às suas necessidades especiais, quanto às potencialidades, é fundamental a elaboração de um PEI (Plano Educacional Individualizado) a ser trabalhado no ambiente escolar.
Também é muito importante ser realizado o Plano de Intervenção Terapêutica, a ser trabalhado pela Equipe Multiprofissional, que irá acompanhar a criança em seu desenvolvimento.
Quais são os mitos comuns sobre autismo e superdotação que precisam ser desmistificados?
- Nem todo autista tem altas habilidades/superdotação.
- Crianças com altas habilidades podem apresentar em algum momento alteração do perfil sensorial e não ter diagnóstico de autismo.
- Crianças com dupla excepcionalidade não necessariamente terão alto desempenho em todas as áreas.
- A identificação nem sempre ocorre de forma perceptível aos olhos, ou seja, no dia a dia, é importante que a criança passe por avaliação para identificação das altas habilidades e diagnóstico de TEA.
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Como a superdotação pode se manifestar em crianças autistas?
Assim como em outras crianças, as altas habilidades podem ser identificadas desde a primeira infância, sendo em uma área apenas ou em diversas, considerando que é necessário a tríade de características como: criatividade, habilidade acima da média e envolvimento com a tarefa.
Quais profissionais devo consultar para uma avaliação completa da dupla excepcionalidade do meu filho?
Os profissionais podem ser psiquiatras infantis, neuropediatra, neuropsicólogos, neuropsicopedagogos, professores (para avaliação no contexto escolar), fonoaudiólogos, terapeutas ocupacionais. A equipe multiprofissional deve ser direcionada de acordo com as demandas apresentadas pela criança.
Queremos agradecer a participação da Greice C. Dos S. Carraro em nosso conteúdo sobre autismo e superdotação. Sua expertise como psicopedagoga e neuropsicopedagoga nos proporcionou não apenas uma base sólida de conhecimento, mas também insights enriquecedores para apoiar o desenvolvimento de crianças duplamente excepcionais.Esperamos que você tenha conseguido solucionar todas as suas dúvidas. Aproveite também para entender como uma pessoa com autismo enxerga o mundo e até a próxima!